top of page
  • Black Facebook Icon
  • Black Instagram Icon
  • Black Twitter Icon
Buscar

"Ô na cama lá de casa"

  • Foto do escritor: Marina Ruperto
    Marina Ruperto
  • 22 de fev. de 2017
  • 3 min de leitura

"Ô na cama lá de casa" Disse um rapaz simples e meio sujo que passou por mim. Do início

Eu estava caminhando pela roça (ou melhor, zona rural de Manhumirim - MG), quando um homem magro, da mesma altura que eu, com as trouxas nas costas e com um olhar de quem trabalhou o dia inteiro passou ao meu lado. Em terra de parente, todo ser humano é primo. Eu estava em um clima leve, poderia ter ficado quieta, mas lembrei da educação (ainda a tenho, graças a Deus) e disse "olá". Não sei se ele esperava que eu o cumprimentasse. Nesse diálogo eu era: a mocinha bem vestida admirando a natureza e ele era o trabalhador. Ele respondeu: ô na cama lá de casa. Eu fiquei sem reação. Talvez se eu estivesse com "a macaca" como meu amigo gosta de dizer que fico às vezes, eu poderia ter dado uma resposta bem "escrota". Porém eu fiquei parada olhando pra ele, enquanto ele apenas seguiu o seu caminho. Em alguns segundos ele virou e disse: é brincadeira, tá?

Eu pensei em duas opções pra explicar essa segunda fala dele: 1ª) Bateu um leve arrependimento por eu não ter respondido seu comentário que foi notoriamente desrespeitoso. E ele já estava acostumado a insultar outras mulheres e elas o insultarem de volta. 2ª) Ele pensou que pelo meu perfil eu poderia ser filha de alguém importante (coisa de cidade pequena), o que pode ter causado uma ameaça a ele mesmo. Depois eu apenas fiquei pensando e tentando entender. Na hora que isso aconteceu eu simplesmente não soube o que pensar, agora estou refletindo. Eu não odiei aquele homem, talvez em outra situação eu o odiasse mas a única coisa que me incomodou foi algo que sempre me incomodou: o machismo. E na hora nem isso me incomodou. Na hora eu apenas senti pena. O machismo tão impregnado na carcaça daquele ser humano, o machismo que o deixava sobre domínio, o machismo que ele nem sabe o que significa mas que ele pratica frequentemente com outras mulheres também... E é isso que o machismo traz aos homens: uma doce ilusão de poder. Muitas vezes realmente vem acompanhada de poder, de opressão e violência. E outras vezes, apenas se expressa como uma forma frustrante de ser algo que não se é: superior. Lamento pelo machismo e por tantas mulheres que sofrem em decorrência da existência de um pensamento retrógrado e burro como este. Com certeza já fui vítima do machismo também como a maioria das mulheres, porém nunca de forma traumatizante e degradante (e por isso, sou grata). Porém, é óbvio que o machismo está presente nas situações mais diversas (das mais brandas até as mais sérias) e o que aconteceu comigo neste dia foi só uma amostra grátis dos constrangimentos que nós mulheres sofremos ao longo de nossas vidas.

Não tem aquela frase que diz: o que você já deixou de fazer por ser mulher? Pois é, é bem por aí que as coisas funcionam… Em certos lugares, nós, mulheres, somos forçadas a agir de tal modo a evitar situações de constrangimento como a que eu passei ou até mesmo situações de perigo. O carnaval está chegando e é uma época em que a susceptibilidade a essas circunstâncias ameaçadoras aumenta muito. Minha sensação de impotência me deixa muito triste e é assim que eu penso que cada mulher se sente quando vê uma notícia de uma outra mulher que sofreu um abuso físico ou psicológico apenas por ser mulher.

Portanto eu só gostaria de deixar uma mensagem a todas as garotas que vieram aqui ler isso: tomem cuidado. Ocasionalmente a única coisa que podemos fazer é evitar o perigo…


 
 
 

Posts recentes

Ver tudo
Não perca as últimas atualizações

Marina Ruperto Mallosto das Chagas

Médica  amante da arte e filosofia;

Libriana do riso frouxo  e cabeça nas nuvens. 

Em alto mar é mais do que um lugar, uma ideia ou uma forma de viver.

É  a busca, o renascer, o sentido e o sentimento.

  • Grey Facebook Icon
  • Grey Instagram Icon
  • Grey Twitter Icon
bottom of page