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Estilo de vida saudável: o desafio do século


Inicialmente eu idealizei que meu site tivesse um certo distanciamento da minha rotina na medicina. No entanto, final de semana passado minha mãe me mostrou um vídeo em que uma médica dizia como ter um envelhecimento saudável e no final ela virou pra mim e falou: não quer colocar isso no seu blog, não? Eu respondi: meu blog não é sobre isso, mãe - e ri. Depois eu refleti: porque não?

A medicina é uma arte. Alguns pensam que é uma ciência exata, que dó. Outros acham que é uma dádiva divina. Eu simplesmente acredito que seja uma arte, pois é inspiradora. Quando achamos que sabemos algo, descobrimos outro detalhe que não imaginávamos antes e assim vai… Cada dia é uma descoberta nova e passamos a compreender como tudo pode acontecer quando se trata de saúde.

Hoje em dia as novas descobertas demonstram que aquilo o qual pensávamos ser uma verdade concreta era, na verdade, apenas uma evidência encontrada no momento em que foi descoberto. Sol causa câncer de pele, em contrapartida, a falta dele causa deficiência de vitamina D que poderia provocar uma osteoporose. Antigamente a vitamina D era apenas uma vitamina, hoje já pode ser considerada também um hormônio. Acreditava-se que sua principal atuação era nos ossos, hoje já se sabe que é também um elemento essencial no sistema imunológico.

Uma sigla que muitas vezes vira motivo de gozação entre meus colegas da medicina é a MEV; que significa mudança de estilo de vida. Parece simples quando estudamos gastroenterologia, pois em todas as condutas tem a bendita MEV. Porém o mais difícil às vezes é descrever detalhadamente o que uma mudança de estilo de vida. Comer de forma mais saudável (mas como?), praticar atividade física (mas qual?), trabalhar menos, “slow down”, tirar um tempo pra si mesmo (e a saúde mental?).

Após fazer todas essas indagações a mim mesma, eu chego a conclusão de que a maioria das coisas as quais atrapalham a construção de um estilo de vida mais saudável está na forma de viver. Essa frase parece meio mal escrita, mas é exatamente isso que eu quero dizer. Nosso sistema econômico capitalista, nosso trabalho exaustivo, nossa alimentação e nossa falta de tempo/paciência para praticar exercício físico determinam a rotina NADA saudável que levamos.

Nestas circunstâncias, me questiono: como dizer para uma mãe solteira de 4 filhos que ela precisa trabalhar menos, senão ela irá infartar? Será que ela tem alguma saída dentro das condições em que ela vive? Será que ela simplesmente pode pedir pro chefe para trabalhar menos? Sejamos realistas… Nós, profissionais da saúde, temos que conhecer o mínimo da realidade de nossos pacientes ao lidar com eles, para saber até qual ponto poderemos atuar ou não. Infelizmente o maior problema de saúde desta senhorita mãe solteira não depende dela, mas sim do Sistema. Transferindo esta realidade para nossas vidas: quantas vezes temos de comer rápido, deixar de praticar um esporte em prol do trabalho/estudo, deixar de nos divertir, estudar durante a madrugada, dormir pouco, etc?

De fato nós não morreremos mais tão novos como nossos bisavós ou tataravós, porém nosso envelhecimento com certeza não terá a mesma qualidade. As doenças novas que surgirão a partir do nosso estilo de vida trarão a certeza de que o maior desafio da medicina é a prevenção primária.

As pessoas precisam tomar consciência de que a saúde é um processo contínuo e complexo ditado por relações não lineares entre o corpo, a mente e o ambiente externo. Enquanto o médico tratar a doença e não houverem esforços por parte da sociedade e do próprio paciente para cessar os fatores desencadeantes da enfermidade, a medicina estará sempre limitada.


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